Aconcelho a audição de : http://www.youtube.com/watch?v=BAcaZqwPriU , para uma maior concentração e evasão do mundo exterior e da vontade de passear e sair, em época de exames :)
As invasões germânicas (entre os séculos V e VI) fizeram com que houvesse uma desagregação das estruturas clássicas (romanas). A este período conturbado da história (principalmente do ocidente), foi dado o nome de Idade Média.
O embate entre dois mundos (o romano em decadência, e o bárbaro em ascensão) fez com que houvesse profundas alterações estruturais:
· Enfraquecimento da economia mercantil: a desorganização pelas guerras, constantes pilhagens, a insegurança nas comunicações fez com que a economia mercantil se desagregasse, fazendo assim com que se voltasse a uma forma de subsistência natural e agrária. As pessoas passam a depender da natureza para sobreviverem.
· O declínio e redução dos centros urbanos: eram os alvos preferências dos ataques dos exércitos pelas suas riquezas e tradições e pela sua importância Económico – social.
· Desorganização da administração pública, fazendo com que os poderes centrais desaparecessem e com que o poder político fosse pulverizado por vários locais.
· Profunda depressão demográfica: justificada pelo declínio da vida económica e material das populações, pelas guerras e pelo clima de insegurança.
Estas características foram-se acentuando nos séculos seguintes, que foram marcados por novas invasões, pela precariedade das subsistências, pelo crescente barbarismo dos costumes, pela ruralização da vida económico – cultural e pela instabilidade e insegurança. Razões que explicam a instalação do feudalismo.
Neste mundo feudal, rústico, violento e rural, uma única força se manteve em crescimento: o cristianismo, que foi um elemento aglutinador e ordenador de uma Europa dividida e em decadência.
Os bispos cristãos aproveitaram as estruturas administrativas em decadência e usaram o poder dessas instituições numa época de anarquia militar e política, para congregarem e organizarem os fiéis. Após a queda do império romano do ocidente, foram as dioceses as únicas autoridades presentes e actuantes junto das populações.
A igreja cristã, durante toda a Alta Idade Média, ultrapassou em muito as obrigações religiosas, pastorais e doutrinais, exercendo também um papel civilizacional (ao nível das técnicas agrícolas, suavização de costumes e conservação e desenvolvimento das artes e letras), que teve como focos difusores as igrejas e os mosteiros.
Por isso a cultura medieval tem um carácter religioso, embora também bárbaro.
E foi assim que se criou a cristandade - comunidade de povos e nações que, professando a fé cristã, criaram entre si veículos sociais, jurídicos e culturais.
A partir do ano Mil, um conjunto de circunstâncias favoráveis permitiu a inversão deste quadro depressivo. No século XI cessaram as vagas invasoras e abrandaram as guerras internas de carácter feudal.
O regresso à paz, permitiu um melhor ambiente social e de estabilidade, favorável ao desenvolvimento de técnicas agrícolas. O desenvolvimento económico permitiu o aparecimento da agricultura excedentária, um lento acelerar do crescimento demográfico e o renascer do comércio.
O comércio reanimou a vida urbana e no século XII, os burgos (cidades) eram já os símbolos do renascer da Europa. A Igreja aproveitou este clima para acabar com as heresias da Alta Idade Média, reforçar o sentido pastoral junto dos fiéis, lançou o Movimento Paz de Deus e Trégua, incentivou peregrinações, construiu e reconstruiu igrejas e organizou as cruzadas. Foi neste ambiente de reabertura económica e renovação cultural que surgiu o Românico, o primeiro movimento artístico da Idade Média.
O Mosteiro
O monaquismo cristão nasceu no Oriente, onde possuía raízes anteriores ao cristianismo, espalhou-se pelo Mediterrâneo. Nasce ligado ao desejo de isolamento e evasão do mundo profano, para uma entrega mais dedicada a Deus, através do ascetismo, da meditação e da contemplação.
Apareceram então os primeiros monges e monjas, e com eles os primeiros legisladores de uma vida de monaquismo (meditação e isolamento do mundo exterior). Os regulamentos, criados por São bento de Núrsia serviram de modelo para quase todos os mosteiros medievais e ordens que se foram criando como por exemplo: a ordem de Cister, Cluny (…)
São Bento, defendia na sua obra que o mosteiro, devia ser uma escola aos serviços. A comunidade tinha como princípios básicos a obediência, o silêncio e a humildade na ordem de Deus.
A primeira obrigação dos monges é o ofício divino, mas também possuíam outros deveres onde a oração estava presente com o trabalho, nas oficinas, nos campos (…) com horários bem estipulados. O regulamento Beneditino não esquecia de definir cargos e tarefas a cada um, sempre hierarquizadas, com código penal para quem não cumprisse.
Seguindo o ideal ascético, os mosteiros estavam instalados em zonas isoladas. Eram pequenos mundos autónomos e auto-suficientes, fechados ao exterior por muralhas e portas sempre vigiadas. A entrada eram reguladas por horários hierarquizados consoante as visitas: os outros clérigos poderiam participar em actividades, membros da nobreza e realeza tinham estadia privada e aos restantes estratos da população ficavam na hospedaria, sem acesso à vida da comunidade, sem que tivessem autorização.
A organização arquitectónica do mosteiro, reflecte ainda uma grande organização hierárquica:
· No coração do complexo arquitectónico, a Igreja;
· A sul, um pátio descoberto, isolado pelos edifícios mais importantes – o claustrum;
· A ala nascente, junto à cabeceira da igreja, destinava-se às funções espirituais (escola, escritório …) e à residência da irmandade;
· A ala a sul do claustrum agrupava as dependências mais funcionais (refeitório, cozinha, despensas, hortas, jardins etc.)
· A oeste, junto da entrada, os noviços, peregrinos, doentes, inválidos e também os mortos (pois era lá o cemitério).
Os mosteiros foram então centros de oração e ascese e mais do que isso. Pois pelas condições económicas, políticas e sociais, puderam canalizar grandes riquezas (através de dízimos, doações etc.) os mosteiros transformaram-se em dinamizadores da economia (difusores de técnicas agrícolas, incentivadores do comércio e artesanato) e centros de produção cultural na teologia, nas letras e ciências e ainda em escolas, exercendo um papel civilizacional.
Com toda a confusão, muitos dos centros de escolarização desapareceram, havendo assim um retrocesso à tradição oral e a uma população não alfabetizada.
Mesmo assim, continuaram a existir pouquíssimas e longínquos centros de instrução, fazendo com que apenas no total da população umas centenas de homens soubessem ler e escrever. E esses homens eram os monges ou doutores das igrejas, pois precisavam de saber ler as Sagradas Escrituras, os Evangelhos e a Bíblia. Eram os letrados, pois nos mosteiros a liturgia e a doutrina estavam estipuladas.
Existiam pouquíssimos intelectuais e a cultura estava medíocre e barbarizada.
A situação só se começou a modificar, no século IX com o renascimento Carolíngio.
Carlos Magno, tornado então imperador do império do Ocidente, empenhou-se em fazer Renascer as letras e as artes. Criou a Ala Palatina – para a qual atraiu
Fomentou o interesse pelos autores clássicos, gregos e principalmente romanos, fundou ainda uma extensa biblioteca, uma espécie de fundo cultural permanente para a formação dos estudantes.
A partir desse núcleo, criou-se uma rede relativamente extensa de novos centros culturais, que funcionavam quase todos em abadias e mosteiros.
As escolas monacais ensinavam as disciplinas do trivium e do quadrivium. Deste modo a partir do século IX – X, os monges nos seus mosteiros e conventos tornaram-se guardiães do saber. À tradição clássica juntou-se também uma influência Muçulmana, que estava presente agora na Europa, principalmente na Península Ibérica.
O papel de guardiães do saber escrito cabe igualmente aos monges pelo trabalho exercido nos escritórios conventuais, espécies de oficinas de escrita, onde monges especializados (escribas e copistas) escreviam documentos e registos do mosteiro e se entregavam de copiar à mão, os livros religiosos e os clássicos, ilustrados por vezes com iluminuras. Estes livros eram normalmente encomendados por outras instituições religiosas e por vezes também individualmente, e quanto mais decoradas eram, mais caras eram por sua vez, esta reprodução de livros era extremamente valiosa, pois não existiam oficinas que o fizessem e foi o esforço destes monges, que trouxe até nós o pensamento dos Antigos.
Desenvolveram-se caligrafias e alfabetos diferenciados, característicos das abadias ou regiões que os produziam.
O domínio da arte da escrita e do saber, engrandeceu o papel dos eclesiásticos na sociedade e conferiu-lhes durante muito tempo o monopólio dos cargos públicos valorizando-os aos olhos dos monarcas.
São Bernardo de Claraval
São Bernardo de Claraval foi o fundador da ordem de Cister. Marcou a história artística e cultural da Europa do seu tempo.
Para alcançar a verdade de Deus não se poupou aos sacrifícios, sujeitando-se deste modo a autoflagelações e mortificações, as quais lhes causaram a doença da qual foi vítima. O seu pensamento ficou registado numa numerosa obra escrita que se dispersa por vários ramos; esta actividade valeu-lhe o título de doutor da igreja. Contudo São Bernardo não foi um pensador mas sim um místico porque a sua doutrina não se encontra devidamente sistematizada. Era um homem violento, rígido e severo, obcecado pela religião e pela fé, lançando assim as cruzadas que pretendiam espalhar a fé cristã.
Coroação de Carlos Magno
Carlos Magno foi um importante militar e governante e foi com ele que o ocidente conheceu a primeira época de estabilidade após as inversões. Realizou expedições militares que lhe ocuparam mais de metade da vida, expedições estas que obtiveram grades êxitos devido à superioridade da cavalaria. Preocupou-se com a com a administração dos seus territórios, que dividiu em condados, entregues á gestão de condes, procurou restaurar as letras e as artes.
A maior parte do seus êxito ficou a dever-se pela sua aliança com a Igreja: nas suas campanhas fez-se sempre acompanhar de missionários e pregadores cuja função era baptizar e converter os povos conquistados.
A Igreja recompensou-o largamente, quando em Dezembro de 800, o Papa Leão III, resolveu conceder-lhe a coroa de imperador do Ocidente. Este acontecimento teve uma grande importância política: quebrou o laço de dependência legal que o papa tinha com os reis ocidentais e o Império Bizantino, visto atribuir a Carlos Magno a qualidade de legítimo herdeiro dos imperadores romanos, restabeleceu assim o império, unificou o Ocidente sob o mesmo poder político (os Francos) e sob o mesmo religioso (o Cristianismo).
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